No começo foi muito difícil conciliar a agenda, me deslocar por São
Miguel e adjacências com os jovens urbanos que estavam dispersos em
várias experimentações. Aos poucos, porém, as coisas foram se ajeitando e
fui ficando em meu território, e aí pude acompanhar a oficina Produça, desenvolvida pela Bárbara e pelo Tadeu.
Com os jovens vindos de outras organizações, também foi uma conquista
tranquila. Reconheço que sou "meio facinho" e faço amizades fácil. Aí,
pouco a pouco, fui chegando e quando me dei conta, já estava dando
pitaco, metendo o bedelho até onde não devia. É isso, sou entrão mesmo!
A ideia do Contra-Ação (produto final do Produça), parece-me que surgiu
expontaneamente dentro do grupo, que, via de fato, já tinha se tornado
uma turma homogênea, independente do território ou da organização de onde vinham.
Eles
se inflamavam, defendiam pontos de vista às vezes bem desconexos,
ansiavam por fazer um trabalho cheio de informações, vitaminavam as
discussões com sugestões que surgiam sempre hiperbólicas, no atacado
mesmo...
E o Tadeu, a Barbara e o
Felipe, todos lá, fazendo papel de advogados do diabo, "apagando" o
fogo, contendo ímpetos e direcionando as questões.
Eu temi. Juro por Deus que temi pelo pior. Flash-mob? Como assim? Quem teve essa ideia de doido? Mas
era o que eles queriam.
Alguém muito insano - como, aliás, sempre fui, "principalmente quando tinha a mesma idade deles" - quis fazer esse
Contra-Ação assim: tomar de súbito o espaço de um metrô ou trem, para
dar um recado veemente. Que recado era? No início, eles mesmos não sabiam...
mas sabiam - ó, como sabiam - que queriam dizer alguma coisa. E
grito não pode ser reprimido nunca! A energia desse grito fica ali,
concentrada, e é preciso soltá-la em algum momento, não importa como ou
aonde. Daí a importância de nunca fechar a usina de ideias do jovem.
Mãos à obra, hoje à tarde o evento aconteceu, em dois momentos diferentes, dentro de vagões de trens da CPTM. Os jovens urbanos do IPEDESH, MOCA, Alana e SEPAS, foram lá pra estação de São Miguel, entraram rindo, inseguros e nervosos, mas tomaram o rumo do centro e deram conta do recado. No primeiro happening, entre as estações Tatuapé e Brás da linha Safira, 12 - precedidos pelo Raul e depois capitaneados pelo Carreirinha - fizeram veementes discursos contra a violência que as instituições públicas (saúde, transporte, segurança e educação, entre outras), imprimem contra a população. Depois, fizeram um desfile portando frases arrebatadoras, legendas que eram versos recortados mas que diziam, de um jeito muito pessoal, o modo como eles encaram, pensam e querem o mundo.
A segunda performance demorou um pouco para ocorrer. Os jovens ficaram aguardando na plataforma da estação Brás, "vigiados pelo olhar sanguinário do vigia", como acertadamente racionalizou o educador Del (MOCA), os seus amigos que, instigados pela ideia de ocupação, saíram de seus territórios para assistir a intervenção. Quando os outros jovens chegaram, já era por volta das três e meia da tarde, e os trens que partiam do Brás para Calmon Viana já saíam lotados. Decidiram manter o previsto, mas realmente estava impossível acontecer o desfile. Combinaram então de descer na estação Tatuapé e novamente fazer o percurso em direção ao Brás, pois a essa hora os trens que vão no sentido bairro-centro são sempre mais vazios.
Embarcamos - pela segunda vez - agora no Tatuapé e, enfim, todos puderam ser agraciados com o rompante inspirado da rapaziada.
Feito isso, era hora de voltar pra casa.
Essa semana teremos muito o que conversar sobre o evento.
Feito isso, era hora de voltar pra casa.
Essa semana teremos muito o que conversar sobre o evento.
título de Célia Yamasaki
texto de Escobar Franelas
texto de Escobar Franelas
fotos de Célia Yamasaki e Elaine Mineiro
Contra-Ação: um ato de ousadia
ResponderExcluirDos jovens, que tomaram de assalto um vagão de trem da CPTM com uma performance no melhor estilo Flash Mob, mas, principalmente, dos adultos envolvidos no processo, assessores técnicos, educadores e até uma coordenadora muito louca que deram um voto de confiança a esses jovens que, por sua vez, corresponderam à altura dando o seu recado numa ação pacífica e sem tumulto, porém não menos contundente.
Taí um binômio poderoso: diálogo e confiança
Foi uma escolha intrigante feita por eles, ms nós, que já fomos jovens, sabemos como essas escolhas se processam em nossas cabeças, né, Sueli?
ExcluirAo mesmo tempo, o "produto" (se é que podemos chamar isso produto), é muito instigante e rejuvenescedor essa convivêncai e essa apropriação.
Você disse tudo: diálogo e confiança.
Que incrível isso! Hoje por uma coincidência celestial encontrei o Carreirinha no ônibus e ele me contou como foi a experiência de intervir dentro do trem que milhares de pessoas pegam todos os dias. Achei barbaro porque eventos como esse são muito potentes por tirar o chão das pessoas que estão acostumados, tiram as coisas do lugar e obriga as pessoas a sentirem, refletirem e verem o poder que a união pode trazer.
ResponderExcluirParabéns ae galera, quero ver sempre mais!
Marcel
Marcel, de certa forma (e muito pela sua formação), creio que você seria uma pessoa muito indicada para estar lá, vivenciando aquele momento. Foi muito intenso, e de imensos aprendizados, que levaremos para sempre.
ExcluirComo depois foi comentado em nossas rodas de conversa aqui, vivendo essas experiências, quem precisa de droga para ver sua adrenalina ir a mil?
Aqui, há braços para abraços.
Parabéns a todos! A ação foi realmente incrível. Elaine.
ResponderExcluirObrigado pela sua presença luminosa, Elaine. Foi um belo presente que esses jovens nos deram, e se deram.
ExcluirAgora eu como Coordenadora, deixo meus parabéns a todos e missão cumprida.
ResponderExcluirTambém agradecemos a sua presença, Célia, que foi muito importante inclusive para uma energizada na molecada. Obrigado por tudo.
Excluir