quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Recreação no Pq. Chico Mendes com Instituto Alana - Uma tarde ruim

Uma e vinte da tarde. Da Casa Amarela, saímos eu, Coca, Jack (Daniels, "irmão" da Coca), Paula, Nega, Carreirinha, Leylayne, Emerson, Edi, Pudim e Ulisses em direção ao Parque Chico Mendes. Iríamos, emparceria com os jovens do Instituto alana, no Jd. Helena, explorar o bucólico espaço de São Miguel, que muitos dos jovens urbanos do IPEDESH ainda desconheciam (mesmo morando no bairro).
Antes, uma passadinha pelo CDC Tide Setúbal, que muitos também ainda não conheciam, e outra "rapidinha" pela Associação dos Moradores da Cidade Nova, onde o Programa Jovens Urbanos/IPEDESH aconteceu no ano passado (6ª edição). Os jovens estavam curiosos em ver um dos projetos mais interessantes da turma passada, o Muda Ambiente, que fez uma interferência paisagística no local. Como pudemos observar, o trabalho resiste, apesar de mal cuidado.
Toca o telefone. A Elaine Mineiro (educadora do PJU/Instituto Alana) já está com seus jovens no parque e pergunta se vamos demorar. Digo que demoraremso mais 10 minutos. Chegamos em quinze. Abraços, beijos, cumprimentos, apresentações, e então dispersamos os jovens, "deixem suas bolsas aqui e vão explorar o ambiente". A Elaine ainda recomenda, "vamos marcar um horário para lancharmos juntos?". Tudo combinado, eles "somem" dentro do parque.
Meia-hora depois, a balbúrdia: "Escobar, roubaram o celular da gente", "Elaine, tomaram o meu celular!". 
"Como assim?"
Custei a acreditar, até porque estávamos dentro de um parque hermeticamente fechado, por muros, por árvores, e por seguranças. Mas fato é fato. Tínhamos sido surrupiados. Números: um arrastão de sete jovens produziu a perda de quatro celulares, uma câmera fotográfica e um murro no rosto do David (PJU Alana), que deixou, além de um hematoma, também pavor, indignação, medo e muitos outros sentimentos que se manifestarão por dias, talvez meses ou até anos na vida de cada um de nós.
Primeira providência: procurar a adminsitração do parque. Não tem. Um jovem funcionário dispôs-se a ligar para a Polícia Militar ou Guarda Civil Metropolitana. Enquanto ele cumpria seus préstimos, ficamos no meio-caminho entre conversar com os seguranças e dar apoio moral e logístico para os jovens. A conversa com os seguranças do Parque Chico Mendes, um espaço público (que deveria ser) mantido pela Prefeitura do Município de São Paulo, revelou-nos o óbvio: eles não agem, não sabem como agir, e se agir, vão  fazer tudo errado. Pois não têm treinamento, não sabem lidar com situações-limite, não sabem sequer dialogar com seus interlocutores. Para exemplificar, não sabiam dizer o nome da rua do parque onde trabalham, não sabiam (nem na adminsitração), qual a delegacia distrital que atende naquela região, não sabiam explicar porque de skate não se pode andar (dois jovens sob minha responsabilidade estavam com seus "rodantes"), ao passo que um grupo de cinco rapazes fumavam descontraidamente seu beckzinho dentro das dependências, a menos de 100 metros da entrada do parque, sem serem advertidos. Não tinham respostas claras para nenhuma das perguntas. Em suma, "seguranças o parque têm, o que não tem é segurança".
Mais ou menos duas horas depois chegou uma viatura da GCM e se prontificou a "verificar as redondezas para ver se achava algum dos meliantes" com as características descritas pelos jovens. Palavras do soldado. E fomos informados que eles não poderiam nos levar à delegacia, pois teriam que fazer a diligência no entorno. 
Depois de perguntar, procurar, questionar e muito perambular, chegamos ao 67º Distrito Policial (Jd. Robru), onde - pasmem! - fomos até que bem atendidos pelo delegado, o investigador e o escrivão de plantão. 

Normalmente temos uma roda de conversas no pós-retorno das explorações. Para a terça que vem a tarde promete. Sei de antemão que com estes fatos corremos o risco de perdermos jovens. Alguns pais foram tremendamente lacônicos ao telefone. Mas sei também que essas duras lições nos irmanam. E aqui quero registrar meus sinceros agradecimentos à Elaine Mineiro, educadora do PJU/Instituto Alana e ao jovem Caique Cirino, o Carreirinha do IPEDESH, prestativos ao extremo, e como sempre. Também compartilho abraços sinceros nos jovens Paula (IPEDESH), Israel, Maique e David (Alana), que tiveram seus bens subtraídos, e mesmo assim ajudaram a ponderar cada passo na situação crítica que vivemos. E registro a atitude exemplar de cada um dos jovens das duas instituições, que tiveram comportamento exemplar, tanto de civilidade quanto de companheirismo entre os grupos.

8 comentários:

  1. Triste ocorrencia, lamentável atendimento, comoventes jovens e educadores.

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    1. Sueli, vamos construir um mundo melhor, nem que seja o "nosso" mundo, individualmente falando. Trabalho de formiguinha, mas necessário...

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  2. Olá, muita força para os jovens, a Elaine e a você, meu querido Escobar. A delegacia fica [literalmente] na porta da minha casa e, provavelmente por alguma interferência divina, vocês foram bem atendidos, pois a administração deste DP por vezes é pior que a do parque. Agora dá para entender um pouco a ascensão do Russomano em primeiro nas pesquisas: numa sociedade desacreditada de sua segurança e do poder publico; qualquer "Aventureiro" que diga que fará algo por segurança pública e um governo que não investe em educação e aplaude a matança realizada por sua policia destreinada [a Rota] é mal interpretado, passando-se por bons governantes. Fico feliz por não ter sido nada pior, pois conheço histórias de pessoas vítimas de estupro no tal parque; lamentável. Abraços à todos. Del

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    1. Del, meu caro, o período é muito difícil, com essas absurdidades acontecendo e nós termos que aturar esses monstros demagógicos. Nosso papel de educadores passa pela construção de novas atitudes, éticas e práticas, com relação a esses jovens que estão por aí e aqui.

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  3. Pura revolta galera, um parque publico , que deveria oferecer lazer e segurança, apresenta descasso com a segurança e o terror imposto por marginais, a terceirização nesse setor é grave e é preciso de um projeto que mude esse cenário, sem campanha politica entenderam ! , qualquer idiota que entrar pode mudar esse cenário , basta querer, quanto aos garotos vitímas e aos educadores... solidariedade total , segue o barco...

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    1. Casé, obrigado pelas considerações. Acredito ser muito necessária atitudes práticas. Abç,

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  4. Olá galera !!! Antes de mais nada me solidarizo com os jovens, os educadores e as entidades que sofreram com este ato-reflexo de abandono da cidade que já vem sendo vítima de politicas equivocadas em várias áreas, principalmente no trato da coisa pública. Parques gestados como terrenos baldios e não como áreas de convívios, com atividades socioculturais e educativas com foco na preservação humana e ambiental.
    E o que temos ? O ato reflexo repetido por jovens que se adequam ao abandono e passam a criar as suas próprias dinâmicas, ocupando o vácuo deixado pelo ausência do Estado [eleito pela população], e criando a sua forma de interação com a sociedade, ou seja, praticando furtos e violência gratuita, consumindo drogas, e impondo a sociedade sua lógica de predomínio territorial.

    Inserir jovens na cidade e na defesa incondicional da liberdade de expressão é uma tarefa das mais grandiosas e difíceis, e os jovens que promoveram tal "arrastão" fazem parte desta cidade, injusta, desigual, frágil e que flerta com a ilegalidade e impunidade.

    Agora o que podemos aprender com isso, cabem várias reflexões mas uma ao menos para mim é fundamental: A importância do projeto jovens urbanos para a discussão e a proposição de soluções para cidade, utilizando a força criativa do jovem para reconstruir o que está destruído pela ausência de criatividade.

    Abraço a todos e força !

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    1. Mauro, sua reflexão vem de encontro total ao que penso e pratico. Valeu!

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