Uma e vinte da tarde. Da Casa Amarela, saímos eu, Coca, Jack (Daniels, "irmão" da Coca), Paula, Nega, Carreirinha, Leylayne, Emerson, Edi, Pudim e Ulisses em direção ao Parque Chico Mendes. Iríamos, emparceria com os jovens do Instituto alana, no Jd. Helena, explorar o bucólico espaço de São Miguel, que muitos dos jovens urbanos do IPEDESH ainda desconheciam (mesmo morando no bairro).
Antes, uma passadinha pelo CDC Tide Setúbal, que muitos também ainda não conheciam, e outra "rapidinha" pela Associação dos Moradores da Cidade Nova, onde o Programa Jovens Urbanos/IPEDESH aconteceu no ano passado (6ª edição). Os jovens estavam curiosos em ver um dos projetos mais interessantes da turma passada, o Muda Ambiente, que fez uma interferência paisagística no local. Como pudemos observar, o trabalho resiste, apesar de mal cuidado.
Toca o telefone. A Elaine Mineiro (educadora do PJU/Instituto Alana) já está com seus jovens no parque e pergunta se vamos demorar. Digo que demoraremso mais 10 minutos. Chegamos em quinze. Abraços, beijos, cumprimentos, apresentações, e então dispersamos os jovens, "deixem suas bolsas aqui e vão explorar o ambiente". A Elaine ainda recomenda, "vamos marcar um horário para lancharmos juntos?". Tudo combinado, eles "somem" dentro do parque.
Meia-hora depois, a balbúrdia: "Escobar, roubaram o celular da gente", "Elaine, tomaram o meu celular!".
"Como assim?"
Custei a acreditar, até porque estávamos dentro de um parque hermeticamente fechado, por muros, por árvores, e por seguranças. Mas fato é fato. Tínhamos sido surrupiados. Números: um arrastão de sete jovens produziu a perda de quatro celulares, uma câmera fotográfica e um murro no rosto do David (PJU Alana), que deixou, além de um hematoma, também pavor, indignação, medo e muitos outros sentimentos que se manifestarão por dias, talvez meses ou até anos na vida de cada um de nós.
Primeira providência: procurar a adminsitração do parque. Não tem. Um jovem funcionário dispôs-se a ligar para a Polícia Militar ou Guarda Civil Metropolitana. Enquanto ele cumpria seus préstimos, ficamos no meio-caminho entre conversar com os seguranças e dar apoio moral e logístico para os jovens. A conversa com os seguranças do Parque Chico Mendes, um espaço público (que deveria ser) mantido pela Prefeitura do Município de São Paulo, revelou-nos o óbvio: eles não agem, não sabem como agir, e se agir, vão fazer tudo errado. Pois não têm treinamento, não sabem lidar com situações-limite, não sabem sequer dialogar com seus interlocutores. Para exemplificar, não sabiam dizer o nome da rua do parque onde trabalham, não sabiam (nem na adminsitração), qual a delegacia distrital que atende naquela região, não sabiam explicar porque de skate não se pode andar (dois jovens sob minha responsabilidade estavam com seus "rodantes"), ao passo que um grupo de cinco rapazes fumavam descontraidamente seu beckzinho dentro das dependências, a menos de 100 metros da entrada do parque, sem serem advertidos. Não tinham respostas claras para nenhuma das perguntas. Em suma, "seguranças o parque têm, o que não tem é segurança".
Mais ou menos duas horas depois chegou uma viatura da GCM e se prontificou a "verificar as redondezas para ver se achava algum dos meliantes" com as características descritas pelos jovens. Palavras do soldado. E fomos informados que eles não poderiam nos levar à delegacia, pois teriam que fazer a diligência no entorno.
Depois de perguntar, procurar, questionar e muito perambular, chegamos ao 67º Distrito Policial (Jd. Robru), onde - pasmem! - fomos até que bem atendidos pelo delegado, o investigador e o escrivão de plantão.
Normalmente temos uma roda de conversas no pós-retorno das explorações. Para a terça que vem a tarde promete. Sei de antemão que com estes fatos corremos o risco de perdermos jovens. Alguns pais foram tremendamente lacônicos ao telefone. Mas sei também que essas duras lições nos irmanam. E aqui quero registrar meus sinceros agradecimentos à Elaine Mineiro, educadora do PJU/Instituto Alana e ao jovem Caique Cirino, o Carreirinha do IPEDESH, prestativos ao extremo, e como sempre. Também compartilho abraços sinceros nos jovens Paula (IPEDESH), Israel, Maique e David (Alana), que tiveram seus bens subtraídos, e mesmo assim ajudaram a ponderar cada passo na situação crítica que vivemos. E registro a atitude exemplar de cada um dos jovens das duas instituições, que tiveram comportamento exemplar, tanto de civilidade quanto de companheirismo entre os grupos.