quinta-feira, 5 de julho de 2012

Oficina de Letramento

 Imaculada e Cida, educadoras divertidíssimas e super "do bem (foto EF)

Foi uma gratíssima surpresa a Oficina de Letramento da última sexta (29/6), no CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária). Intrumentados pelas dinâmicas Cida e Imaculada, nós, educadores do Programa Jovens Urbanos, passamos um dia inteiro aprendendo a lidar com as diferentes representações da forma escrita no mundo atual. As discussões e provocações incitadas pela dupla, levaram a uma intensa trocas de saberes dentro das novas condições tecnológicas e conceituais do momento presente.
Sob essa perspectiva, foi muito importante ser introduzido ao tema através do vídeo "Se Eu Fosse um Livro", após o qual desenvolvemos uma ideia de programa de rádio a partir da leitura de crônicas diversas publicadas na imprensa.  Foi um exercíco que exigiu muita concentração, arguição e participação do grupo.
O estudo da música "Conversa de Botequim", de Noel Rosa e Vadico, ajudou a criar um clima lúdico e cheio de riquezas sutis, surgidas dentro das observações dos educandos reunidos. Mais interessante ainda ficou quando propuseram que a gente criasse respostas à crônica musical. E ainda mais surpreendente foi quando, sintetizando, as duas mestras (pois isso elas são, com pleno domínio do terreno em que se dedicam), ofereceram para nossa degustação a crônica "Como Nasceu Aquela ´Conversa´", escrita por Luiz Henrique Gurgel, um "diálogo" muito inspirado e original, também originado a partir da audição do sucesso de Noel.
O feliz encontro foi finalizado com o incentivo de ambas para que os grupos construíssem uma crônica coletiva. Permeado pela conversa do dia, pedi licença à minha turma para escrever das experiências etílicas que eles sempre me descrevem sobre como se reúnem após as formações do PJU. Tais reuniões, que são muito festivas - segundo palavras do pessoal do meu grupo ( Danila, Alan e Joelma) - eles batizaram de "formações continuadas", o que, de fato, são. Pois creio que ali também, sob a magia da amizade e engraxada pela liquidez amena do álcool e do papo boa-praça, se constrói muito conhecimento a ser vivenciado e compartilhado.

Segue abaixo, então, a crônica escrita ´a oito mãos´ na "sala de aula":


A formação continuada

Turnicutico!” (e todos trocam de posição)
Chego no bar do Chico. Uma turma alegre e festiva está lá. Juntaram mesas, comem porções generosas dos salgados que tiver no boteco e bebem, bebem fragorosamente. Alguém sacou um pandeiro, e tocam, e cantam, e contam piadas, e riem e celebram a vida.
Tem um boné emborcado no centro da mesa, o ventre cheio de notas amassadas e algumas moedas. E umas tirinhas de papel. Faz parte do ritual, colocam ali o que têm e podem gastar. Os papéis amarrotados indicam o valor que fulano ou beltrano vai gastar no cartão. E torça para que a maquininha do Chico não falhe hoje...
Quando me aproximo, um deles pergunta meu nome. Respondo e sou brindado: “Escobar é um bom companheiro, Escobar é um bom companheiro, Escobar é um bom companheiro, ninguém pode negar”. Rio sossegado, descubro que entre “os meus”, tô em casa. Logo logo faço as primeiras amizades, me animo, ouço as historietas, arrisco uma piada sem graça (e eles riem!), vou me aconchegando. Agora então já posso ser “batizado”. Explico melhor: quem se enturma definitivamente com o coletivo, é convidado/convocado/obrigado a tomar uma dose (num único gole) da Justa Causa, pinga artesanal que o Del (membro da “diretoria” do grupo), carrega em sua mochila e sempre impõe ao novo “familiar”. Se beber direitinho, passa a fazer parte da confraria.
Depois vem a surpresa: são todos educadores. Trabalham com jovens. E também são muito jovens, em seus êxtases criativos, suas memórias afetivas e suas ânsias de viver intensamente, em trocar saberes. Estão reunidos ali pois estavam fazendo curso de formação naquele dia e agora se reuniram para continuar “o aprendizado”. Apelidaram esse momento de “formação continuada”. Criatividade maior, só quando se deparam com questões aparentemente insolúveis de seus alunos.
E eu, que sempre achei que essa coisa de bar se prestava mais a um desserviço social, descubro – empírica e etilicamente – que também estou sendo educado para a excelência na arte de bem viver.
Em tempo: Turnicutico é o mantra que alguém grita quando percebe que as panelinhas estão há muito tempo reunidas. Nessa hora, todos mudam de lugar às mesas, para interagir com outras pessoas.

Flávia, Daniel e Celeste, concentrados na formação (foto EF)




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