Sabadão de correria. Reunião na Casa Amarela às 11h, outra às 14. Passava das quatro da tarde quando saí de lá, o carro abarrotado com caixas de adereços e figurinos do Grupo Teatral Diotéspissio. Destino? Galpão da Cultura e Cidadania, no Jardim Lapenna, São Miguel, onde a trupe irá encenar pela terceira vez o espetáculo NOZLAND.
O pessoal do grupo já estava lá, adiantando o serviço: Claudemir, Bia Fina, Lucas e PC. Logo chegaram Natasha e João com salgadinhos e refri. Todos filam o rango deles. Vou atrás de algo para petiscar. Enquanto circulo pelo Lapenna à procura do que comprar, observo as crianças brincando de pega-pega, carros tocando funk na maior altura, pessoas de todas as idades, credos e cores debruçadas nos parapeitos dos sobrados, olhando absortas o frenesi das ruas, em um belo entardecer de sábado. As casas, quase todas aguardando uma repaginada, parecem tristes em suas paredes cruas. Mas a descontração e a disposição das pessoas denotam uma alegria não traduzível nessas linhas, etílica, leve, colorida.
Volto. Trago um saco com uma bolachinha seca, Coquinho, que gosto muito. Comento com o PC, "faz uns 26 anos que deixei de fazer teatro, mas essa bolachinha já ajudou a disfarçar muita fome naqueles tempos adolescentes". E ele, "poxa, então ela conta muita história". Aceno que sim e ele vai para a coxia.
Começo a rascunhar este texto, com medo de perdê-lo com o tanto de coisa que vou presenciar no momento da encenação. Vejo o Lucas e o João também brincando de pega-pega no palco. Estão todos bem, tanto quanto eu, celebrando o prazer de uma vida simples, mas completa em sua arte e plenitude, ambas muito saudáveis.
Abrem-se as cortinas
NOZLAND está novamente tomando a atenção. Conto as pessoas na sala: 51, mas logo chega a 63. Semana passada, na Casa de Cultura Antonio Marcos, eram 35. Quer dizer, a coisa tá melhorando. Crianças tem bastante. Inquietas, algumas muito atentas, outras nem tanto. O atento, simpático e desprendido Inácio (coordenador do espaço), ajuda a controlar os ânimos e a peça transcorre numa boa.
Ao final, aplausos, muitos aplausos. Subo ao palco para cumprimentá-los. Perguntam com olhos curiosos o que achei de hoje. Penso em maquiar mas sou sincero, "sábado passado vocês foram melhores". Todos concordam, "hoje, não sei oque aconteceu, mas a gente deu uma apagada". Mas eis que alguém, não sei bem quem - acho que o Lucas ou PC, não recordo - logo levanta a cabeça e a voz, "na quarta que vem, na Oficina Luiz Gonzaga, a gente recupera o pique da semana anterior, pode ter certeza".
Falar o quê? Eles entendem tudo, ou, pelo menos, tentam, de todas as maneiras.
Como diria o Caetano, "é essa juventude que quer tomar o poder"? Penso comigo, "tomara".
Fotos Escobar Franelas
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