Acabou?
Acabou mesmo?
É sério, acabou?
E agora, como vai ser?
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Lucas e Caíque fechando a rua para o sábado festivo |
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João, Claudemir "el matador" e Caíque preparando a rua para o desfile do Customizart |
Foi nesse mix de satisfação de trabalhos entregues e a apreensão sobre os prováveis desencontros no futuro, que no sábado último, 2 de fevereiro, nos extenuamos, nos exaurimos, todos, educadores e coordenação do Programa Jovens Urbanos do IPEDESH, e mais "todos" eles, os educandos, os alunos, os jovens, enfim, a turma da 7ª edição que fez a nossa vida diferente nos últimos 11 meses.
Entregamos os três projetos previstos, Revitalicria - Uma ação na Casa Amarela (que previa uma repaginada paisagística na Casa Amarela - Espaço cultural - local onde ocorreu a 7ª edição do PJU em parceria como IPEDESH); o Customizart (que propôs um mergulho na personalização de roupas usadas, calçados e acessórios e que teve como ação final um desfile das peças customizadas); e o Diotéspissio - Teatro em Movimento, grupo de teatro surgido dentro do PJU / IPEDESH, e que teve como projeto a escritura de um texto - Nózland - o preparo vocal e corporal, confecção dos figurinos e adereços e a consequente apresentação deste espetáculo, tudo feito pelos jovens do grupo.
Com a correria de entregar a contento toda a programação, (acho que) ninguém pensou muito que tudo estava acabando, eu inclusive. Só no finzinho da tarde, quando quase todos já tinham se apresentado e estava rolando o (ótimo) show de Carlão Guerreiro da Leste e MC Amanda Mazzeo, é que me dei conta que o relógio estava terminando a sua contagem regressiva.
Não consegui esconder um certo desalento, fato que foi observado por alguns jovens e companheiros de trabalho. Pronto!
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Comunidade compareceu em peso para a festa dos 3 projetos |
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Gildo Passos (mic) e Silvio de Araujo, participações especialíssimas na festa urbana dos jovens |
O INÍCIO
Imaginamos sempre que os caminhos da educação seguem uma reta bem delineada, incontinenti, progressiva. Nada disso, esquecemo-nos que a educação diz respeito ao eu e ao Outro. E esse diálogo, esse embate, é uma trama sempre inconclusa, com idas e vindas, saídas à esquerda, à direita, descidas, subidas, retrocessos, mudanças diárias de curso. Tem o trânsito, tem a chuva, tem os problemas domésticos, tem a famigerada tpm, as relações afetivas, a memória e a ambição individuais, tem a resposta individual ao coletivo, temos as respostas coletivas para questionamentos individuais, há todo um universo de complexidades imprevisíveis e que tornam cada dia um sempre inédito "matar um leão".
O Programa Jovens Urbanos foi uma grata surpresa em minha vida. Depois de nove anos dedicados a outro tipo de projeto jovem (Formare, que tem como fundamento principal a inserção do jovem no mercado de trabalho), para mim foi um desafio muito interessante trabalhar com educação informal com temas transversais (sustentabilidade, cidadania, esporte, sexualidade, trabalho, família, escola formal ec), se cruzando a todo momento, de modo amplo, geral e infinito.
Como inconveniente de não se ter a bola-auxílio que era cedida aos educandos até a 6ª edição (2011), outros desafios surgiram e com eles, a superação, sempre com ações inéditas e criativas, sempre divididos entre educadores de diversos territórios das zonas sul e leste e - por consequência - multiplicados nessas mesmas regiões atendidas pelo Programa.
Fomos pras escolas, igrejas, ruas do entorno, clubes, Unidades Básicas de Saúde e outros lugares inimagináveis. Ligamos, visitamos, fizemos plantão, tiramos dúvidas e, finalmente, no dia 24 de abril, demos início às atividades.
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Paulo, Bianca e Lucas, em Nózland. |
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Carlão Guerreiro e MC Amanda Mazzeo botando a rapaziada pra balançar os esqueletos |
Pronto! A Casa Amarela, mítico point cultural de São Miguel Paulista, se abria para receber a rapaziada que estaria sob os cuidados do IPEDESH, terças, quartas e quintas. E eles chegaram, Camila, Carol (que saía de Guarulhos para estar conosco), Carreirinha, Nega, Leylayne, Ariadne, Ulisses (que saía da ETEC em Arthur Alvim e vinha correndo pra não chegar muito atrasado), a Lichia, a Bia. Já na segunda semana outros vieram somar: a Pudim, a Edilaine (que, com 14 anos, insistiu muito que queria participar - até aquele momento, a idade mínima exigida era 15 anos - e nos venceu pela insistência, abrindo o precedente de que o programa também atenderia a partir de agora os jovens com 14 anos!), depois o Romero (que saía do D. Pedro e vinha direto, morrendo de fome - claro! - e depois, à tarde, tinha que voltar para casa, em Itaquaquecetuba), a Gabriella, a Patrícia, a Sayuri e a Ariadne, a Ingrid (que "perdemos", junto com a Lichia, para o taikô), o Raylan, a Paula, o Emerson (outro que veio de Itaquá). Chegou julho e as explorações pela cidade foram um convite para juntar as turmas da manhã e tarde num único passeio, com os dois educadores - eu e o Claudemir - mediando os encontros de todos com a multicidade que os assombrava e os deslumbrava. Assim, cirandamos e nos enfurnamos no Parque da Luz, no centro velho de São Paulo, inclusive dando um "encontrão" com a turma do Alan (PJU da zona sul), quando visitávamos o mirante do prédio do Banespa, a Casa das Caldeiras, o Parque Ecológico do Tietê (onde conhecemos o Museu do Rio Tietê), o Parque Chico Mendes (quando nos juntamos à turma do Instituto Alana, junto com a Elaine Mineiro, educadora de lá - e quando passamos aquele sufoco do arrastão, que também foi um grande aprendizado para todos), o bairro da Liberdade (duas vezes, por sinal), o Museu da Imigração Japonesa, o Museu do Tribunal de Justiça de São Paulo (no qual fomos recepcionados pelo poeta Paulo Bomfim com "tapete vermelho"), o Museu do Teatro Municipal, o Centro Cultural Banco do Brasil, o MASP, a Galeria de Arte do SESI, o Parque Trianon, o Itaú Cultural... e mais.
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Festa |
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Público do teatro, sob o sol forte de um bela tarde de sábado |
PROJETOS
Então chegamos à fase das experimentações. Todos circulando a esmo, sem o educador ao lado (vá lá, tá bom, tá bom, no início fui junto algumas vezes - coisas de "papito" que não consegue parar de "lamber suas crias"), e eles fazendo novas amizades, conhecendo outras regiões do bairro, trazendo para nossas rodas de conversa as novidades que viam e ouviam pelo caminho e nas aprendizagens. Nem bem tinham ultrapassado essa linha tênue da emancipação juvenil e eis que começam a ser empurrados para pensar seus projetos jovens, o "trabalho de conclusão do curso", num tradução simplória. Hora de apresentar os resultados de quase um ano de convivência, também o momento de começar os prepararativos para as despedidas. Melhor nem pesnar nessa parte por enquanto.
O que, como, onde, quando, por que fazer seus projetos? Dúvidas...
REVITALICRIA
O Carreirinha, a Lê e a Nega já sabiam o que queriam. Tinham passado empiricamente pela experiência da Rio+20, vivenciado o clima contagiante da troca intensa de experiências e agora traziam a vontade de aplicar na prática um pouco daquilo que aprenderam e compreenderam durante a estadia no Rio. Queriam fazer uma reforma na Casa Amarela (nossa sala de "ser" e "estar"), com ênfase na sustentabilidade. na verdade, queriam muito, muito mais: reutilizar materiais, repensar o uso e descarte de diversos itens dentro da Casa e também criar uma nova dinâmica no espaço. Nascia o Revitalicria.
CUSTOMIZART
Já a Coca queria mexer com moda. Sempre quis. Tinha para complementá-la o talento da Paula, a compreensão objetiva e amorosa do Murilo, o desprendimento e o bom humor do Emerson e a dedicação da Pudim. Não bastasse, a Amorom - que saíra do programa por incompatibilidade de horário - voltava agora para ser outro porto seguro, além da Lídia, que chegou - decididamente - para desfilar e, mais ainda, para somar em ideias e atos. O negócio agora era juntar roupas, calçados, acessórios e afins, e tome-lhe agulha, cola, tesoura, tecidos, glitter, purpurina, miçangas, botões, tintas etc.
Surpreendentemente, na hora de ensaiar o desfile, não tivemos problema algum, os "modelos" que tinham sido conquistados no ano pasasdo dentro da escola Tide Setúbal, não voltavam das férias, e lá foram todos pra passarela. viraram modelos de sus próprias criações na última hora e... deram um show! Até o último minuto.
DIOTÉSPISSIO
João Carlos, Lucas, Natasha, PC. No início eram eles. E "eles" eram um grupo à parte, uma turma que queria fazer teatro. Eles "eram" o teatro. E assim seja.
Dedicados, dedicaram-se mais ainda. Inquietos, inquietavam-nos mais e mais com suas peculiaridades: tinham chegado no programa já na metade do curso, só podiam estar na Casa Amarela nas quartas, era um grupo que trazia implicações inéditas.
Mas a flutuação de outros não era a praia a deles, se era pra ser na quarta, que seja! Não faltavam, cumpriam os combinados e ainda levaram para dentro de sua "panelinha" a Lichia e a Edi. Também trouxeram a companhia iluminada da Bianca (talentosa e dedicada) e a Tayla, que chegou aos 45 do segundo tempo mas mesmo assim contribui muito para que o texto Nózland (que o coletivo todo escreveu), fosse encenado com qualidade a não deixar dúvida sobre o talento de cada um. A estreia da peça foi a penas o pontapé inicial, já estão agendadas outras apresentações aidna pelo Program Jovens Urgbanos no território de São Miguel, mas começo a desconfirar que o Diotéspissio vai ganhar voo próprio, já já.
A FESTA
No sábado chegamos cedo na Casa Amarela, corremos a manhã toda varrendo, arrumando, colando, consertando, pregando, amarrando, costurando, discutindo roteiros, todo mundo sob a batuta severa da Célia - coordenadora, aqui trasnformada em regente de orquestra.
Tudo pronto, o Max apareceu pra "fazer a cabeça" do pessoal que iria desfilar, o Claudemir arrumou o som, chamamos os vizinhos, Sueli Kimura, Akira e Scalla sempre na retaguarda, recebemos a comunidade, conhecemos pais que ainda não tinham nos visitado, fizemos novas amizades, fizemos - modestamente escrevendo - uma senhora festa! E que festa. Teve comida e bebida para todos, teve visitas ilustres como a de Solange Kono, sempre contribuindo com boas ideias sustentáveis e praticáveis, do jornalista Roberto Maty que, saído de Sapopemba, veio registrar e prestigiar o evento, do ator e escritor Luka Magalhães, já frequentador dos saraus da Casa Amarela, dos desprendidos educadores do PJU Alan Cunha (Portela) e Elaine Mineiro (Alana). Teve a força sempre presente da Mariana, Jeniffer e o quase onipresente Murilo, todos egressos da 6ª edição (2011), mas focados, dedicados, enturmados com os novos, a partir agora "velhos" também.
Contamos também com as presenças musicais refinadas (e afinadas) de Carlos Scalla, Claudemir Santos, Silvio de Araújo, Zulu de Arrebatá, Gildo Passos, Carlão Guerreiro da Leste e Amanda Mazzeo que, do começo ao fim da festa, ajudaram a tornar a tarde dos jovens urbanos (e da comunidade), mais ensolarada, mais poética, mais festiva.
E se agora olho e vejo eles pelo Facebook já reclamando o desligamento do programa, é porque este cumpriu sua tarefa essencial: multiplicar valores, esperanças, questionamentos e inovações.
Pena que acabou!
fotos de Alexandre D´Lou, Sueli Kimura, Akira Yamasaki, Célia Yamasaki e Escobar Franelas